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A Lã e o Linho
Da Lã e do Linho
A lã e o linho já não se produzem e sobre essa riqueza pouco poderei dizer.
Sei que a lã se fazia. Era só ver as grossas camisolas que cobriam o corpo de gente da lavoura, a quem as geadas das frias manhãs de Inverno não metiam medo. E as meias dos homens que calçavam tamancos de couro branco com biqueira arrebitada, comprados nas feiras de ano. Mas as mulheres, que eram quem as faziam, também em seus pés as punham. E, ao domingo, bem cedo,Tear de soquinhos de veludo com tachinhas a reluzir, lá iam, todas vaidosas, sem frio nem "perna manca", à missa de Avioso, ou a Gondim que, às vezes, era mais perto.
Eram de lã, branca e preta, e concerteza da Terra, mas nunca a vi fabricar, nem mesmo cheguei a ver a tosquia dos ovinos. Lembro-me, sim, dos pequenos rebanhos que desciam a aldeia, com gado de maior porte, até aos campos, a Sul. Passavam à minha porta. E quando eu via um daqueles animais de retorcidas defesas, "ó pernas..., não fosse o bicho começar a investir "a torto e a direito".
Recordo-me, também, de alguns dos utensílios adequados à transformação do produto. Quando, sorrateiramente, entrava na "cozinha velha" da casa do Carneiro, ali mesmo ao lado de onde eu morava, aquilo é que era mexer no que estava quieto.
Rocas habilidosamente bem feitas agitavam a minha imaginação. Fusos requintadamente torneados e polidos deixavam-me mais curioso. Sarilhos e dobadoiras por ali estavam também, e logo que descobertos eram um tal girar.
Para que serviriam aquelas coisas? Para mim, não passavam de bonitos brinquedos que bem me apetecia levar para casa, não fosse a pedagogia da vergasta poder funcionar.
Objectos semelhantes voltei a ver, mais tarde, em casa de minha avó Alvarinha que fora também artesã nessas coisas de fiar. Alguns anos depois, é que vim a saber da utilidade de tais instrumentos.
Do linho, também pouco sei. Era criança, seis ou sete anos de idade, mas guardei na memória as espadeladas levadas a cabo, também, em casa do Carneiro. E como era interessante aquele grupo de mulheres, bem dispostas, de espadela em punho, açoitando, energicamente, o nobre vegetal. Elas detinham os segredos que o transformavam na pureza do tecido que as moças ricas levavam em seus enxovais.
Que trabalho bonito! De vez em quando, lá sai uma cantiga que lhe faz alusão, entoada em uníssono. Mas há sempre um ouvido menos apurado e uma voz que destoa como uma "cana rachada". Que engraçado, até assim fica bem! É tudo tão natural...
Depois, uma saudável brejeirice a fazer corar a face desta ou daquela mais nova que, de amores, já vai morrendo.
As voltas que aquilo dava; e quantas mais teria a dar!? E o tempo que gastava até chegar a bom fim! Meses ou anos – quem sabe? – até à fase final, para servir em boa cama ou em rica mesa.
Sérgio O. Sá
Extraído de: Memórias de uma Aldeia. Trofa: Sólivros de Portugal, 1990.